Eu ♥ Momentos Literários: Evento de Lançamentos Andross - 3ª Parte



Quando um evento reúne muita gente bacana, é impossível comentar sobre todos em um único post. Eu já mostrei para vocês alguns dos escritores que estavam lançando seus contos nas antologias da Andross, então agora é hora de falar com o pessoal que tem a árdua tarefa de selecionar esses contos.






Conversei com o Sérgio Pereira Couto, que é organizador dos livros ANNO DOMINI - MANUSCRITOS MEDIEVAIS - VOLUME II e JOGOS CRIMINAIS - CONTOS POLICIAIS - VOLUME II. Foi rapidinho, mas deu para perceber o quanto esse rapaz suou para montar o conjunto de contos necessários para as antologias.




EL – Entre os inúmeros textos que vocês recebem, existe aquela idéia clichê que se repete em vários contos da mesma temática ou o pessoal é criativo e isso nunca acontece?


SPC – Infelizmente, é um negócio inacreditável. Jogos Criminais é um exemplo. Parece que o pessoal só é fissurado por histórias de assassinato. Não existe outro tipo de crime na face da Terra. Não existe espionagem, não existe roubo, não existe absolutamente nada além disso. Com Anno Domini foi ainda pior. Só dragão, cavaleiro e princesa. Então eu estou tentando justamente dar prioridade pras histórias que saiam do meio comum. Ou seja, que saiam do clichê padrão e que ofereçam o mínimo rasco de criatividade que se possa aproveitar. O que ultimamente está muito difícil, porque o pessoal está aproveitando muita reciclagem de idéias. O que eles vêem em filmes, em seriados, ou em vários lugares diferentes, querem apresentar como se fosse uma idéia nova. Só que a gente, como autor, sabe reconhecer de onde você está tirando a idéia principal. E como editor, você tem que saber separar o joio do trigo.

 

EL – Já aconteceu de vocês receberem um conto com uma idéia principal maravilhosa, fora do comum, mas com uma escrita péssima? Algo que tenha feito você pensar “Isso vai dar um trabalho pra editar...”


SPC – Jogos Criminais está cheio disso. Tem muita gente que acha que por ser Jogos Criminais, você tem que ter uma linguagem chula. É um tal de usar palavrão, termos de baixo calão, e outras coisas do gênero até mesmo na descrição das cenas com sexo e etc... Estão abusando desse clichê. E é muito trabalhoso você voltar pro cara e dizer: “Você vai ter que retrabalhar isso e aquilo”. Praticamente, ele vai ter que reescrever tudo. Então não compensa fazer isso.    



EL – Tem alguma idéia que possa nos adiantar sobre uma próxima antologia que você organizará para a Andross?


SPC – A gente vai continuar com o trabalho feito em Jogos Criminais, que vai entrar no terceiro volume. Vamos continuar com Anno Domini e seja o que Deus quiser! Espero que o pessoal lembre que medieval e dragão não são sinônimos, pelo amor de Deus! E a novidade para o ano que vem é uma coletânea chamada Ponto Reverso, que vai ser sobre contos baseados em realidades alternativas. O que aconteceria se os Aliados tivessem perdido a Segunda Guerra Mundial? E se Jack, o Estripador, fosse mesmo membro da família real britânica? O que aconteceria se Hitler tivesse escapado para o Brasil? Coisas assim.



EL – Coisas como aquelas mostradas na coluna “E se...” da revista Superinteressante. O pessoal já pode começar a pensar por aí?  

SPC – Isso que é o grande problema. O “e se” traz o que a gente chama de realidade alternativa, ou seja, são coisas que não existem, e que por algum motivo passam a existir. Nesse caso não, você tem que pegar um ponto já consagrado da história e tentar ir pelo contrário. Essa é a grande diferença entre realidade alternativa e história alternativa. História que o pessoal entenda o conceito.



EL – Sérgio, como leitor, se tivesse que escolher entre as coletâneas que você organiza pra ler, qual delas seria? Qual tem mais a ver com você?

 
SPC – Não tenho dúvidas de que é Jogos Criminais. Porque eu sou também idealizador e co-diretor do grupo Polígrafos, que é um grupo de pessoas e apreciadores somente de literatura policial. A gente dá cursos, palestras e faz resenhas. Tudo aplicado ao pessoal de literatura policial. Então, com certeza seria essa.








Roubei alguns minutinhos da atenção do Edson Rossatto, que além de editor, também é um cronista e tanto. Segurei a vontade de falar sobre os textos engraçadíssimos que ele posta TPM para falarmos a respeito do trabalho dele na Andross.





EL – Por que trabalhar com coletâneas? Por que não publicar apenas livros romanceados?


ER – Bem no popular, é por causa da famosa vaquinha. Quando a gente se junta pra fazer um pouquinho cada pessoa, a gente consegue fazer um evento maior. Nesse evento eu calculo que tenha passado em torno de quatrocentas pessoas. Isso só foi possível por que um autor trouxe seus quinze ou vinte amigos, que vão acabar lendo seu texto, mas também vão ler os textos de outras pessoas. É essa força coletiva que faz com que as coletâneas sejam sucesso.



EL – Quando você vai colocar uma nova coletânea no mercado, você pensa mais no que vai desafiar os escritores pra fazer um trabalho bacana e diferente, ou no que o público está querendo consumir?
 

ER – Eu gosto do diferencial. Tem muitas antologias por aí de vampiros, fantasmas, e eu não sou muito chegado a fazer coisas parecidas.  Então nós pegamos temáticas diferentes. Por exemplo, a temática de contos sobre a morte, Moedas para o Barqueiro. Tem outro livro que é o Ponto Reverso, contos de realidade alternativa. Eu gosto dessas coisas diferentes, porque se você fizer um livro parecido com o que já tem por aí, ele vai concorrer com outros livros que já estão no mercado. Não é legal isso. Prefiro investir no que não existe por aí ainda.



EL – E o leitor brasileiro? O comportamento dele está mudando? Ele anda procurando mais livros nacionais?

 
ER – Ele anda procurando, sim. O problema é que muitas pessoas querem escrever e não sabem. Não sabem mesmo. Elas dizem “Ah! Mas eu escrevo com o coração”. Você não pode escrever com o coração. Você tem que escrever uma história que agrade outras pessoas. Não é só chegar, dar uma de Chico Xavier e psicografar com o coração. Não dá. Não funciona assim. Você tem que escrever, colocar o texto numa gaveta, deixar lá umas três ou quatro semanas até que você esqueça um pouco as idéias que estavam na sua cabeça. Porque, se estiver falando alguma coisa efetivamente no texto, o seu cérebro, que já conhece a história, vai completar. Se você deixa numa gaveta, você vai se esquecendo dos detalhes da história, e quando for ler de novo, vai ler e falar “Nossa! Faltou tal coisa. Como eu pude deixar passar isso?”. Aí você vai aprimorando. O que pode ser feito hoje é essas pessoas que querem escrever, lerem mais - e histórias boas. Os clássicos também. E também livros que ensinem um pouco de técnica de escrita. Aí sim, nós formaremos não só leitores, como escritores também. Não adianta você colocar no mercado um livro que não tenha qualidade. Se você coloca um livro que não tem qualidade, o leitor brasileiro vai pegar um certo trauma. Ele vai achar que tudo que colocarem na mão dele não é de boa qualidade e não vai querer ler.



EL – Pra você, que avalia tantos textos assim, qual é o maior sofrimento? Os clichês e histórias batidas ou o fato do pessoal não saber escrever e mesmo quem tem uma idéia boa não conseguir desenvolver?

 
ER – Tem de tudo um pouco. A gente recebe mesmo textos que precisam ser trabalhados. Os textos, antes de serem publicados, passam por preparação de originais. O autor tem que aproveitar ao máximo a oportunidade que nós damos a ele, porque as pessoas que fazem preparação de originais são profissionais capacitados, como a Helena Gomez, que é uma escritora que até concorreu ao prêmio Jabuti na última edição. Tem que tirar o máximo dessa preparação de originais. Porque ela pega o texto e fala: "Olha, você começou bem o texto, desenvolveu bem, mas no final está um certo clichê. Vamos mudar esse final?" Quando o autor escuta essas dicas, que são de graça, tem que perguntar mesmo se ficou legal ou não. Agora, efetivamente o que eu posso te falar que é o maior erro dos escritores é confundir estilo com erro. Quando você escreve de uma forma que não está dentro da ortografia e da gramática da língua portuguesa, isso é um erro. E muitos escritores chegam pra gente e falam “É assim que eu escrevo e não vou mudar. Esse é o meu jeito de escrever porque eu escrevo com o coração.” De novo, o coração. Essa é a maior dificuldade mesmo: colocar na cabeça deles que o texto passa por uma preparação de originais, e que essa preparação de originais elimina erros.  



EL – Sobre os autores da Andross, tem algum perfil que se destaca? A maioria é jovem?
 

ER – São pessoas que estão querendo a primeira publicação. Sim, muitos são jovens entre vinte e trinta anos. Mas hoje mesmo eu estou publicando textos de autores com quatorze, dezesseis anos que têm muito potencial. A idéia é que nós publiquemos o texto e que esse seja o primeiro degrau de uma escada para o sucesso no mercado editorial. Claro que com três ou quatro antologias o autor está um pouco mais calejado, mais preparado, a ponto de lançar o seu próprio livro depois.  Então, depois que o autor lança seu livro solo, geralmente não volta a publicar em antologias.



EL – Você como leitor, entre todos os temas de antologias que você publica, qual deles te chama mais atenção?
 

ER – Eu gosto de todos eles, até porque quem cria as temáticas sou eu. Eu só crio temáticas que eu gosto, mas, teve uma que eu gostei muito, até pelo nome, porque ela já saiu pronta. Por que não fazer uma antologia de contos sobre a morte? Porque a morte é certa. Todo mundo morre um dia. Então pode ser uma história que seja engraçada, ou uma história que seja triste... qualquer uma, contando que utilize o elemento morte. A idéia da mitologia grega, do Caronte que é aquele barqueiro que leva as almas pro mundo dos mortos por duas moedas, me veio à cabeça. Eu falei “ Ah! Poderia ser alguma coisa no estilo Moedas para o Barqueiro...” e ficou. No mesmo dia, em menos de dez minutos, criei a temática, de antologia sobre a morte, e o título, Moedas para o Barqueiro. Já estamos entrando no terceiro volume, então tem funcionado bastante.

 Eis que chegamos ao fim dessa cobertura do evento de lançamento da Andross que, para mim, foi tão divertido fazer! Não posso me esquecer de agradecer a todo mundo que teve paciência para me dedicar seu tempo no evento. Brincar de repórter foi legal, mas a melhor parte foi conhecer tanta gente interessante, que gosta de literatura, e está trabalhando para valorizar essa paixão.

Para fechar com chave de ouro, gostaria de presentear cada um que visita nosso blog com uma antologia da Andross. Como vocês formam um pequeno exército de leitores, com mais de cem pessoas passando por aqui todos os dias, essa seria uma missão digna de Papai Noel. Não cheguei a esse nível de santidade – ainda. Então, já que não posso assumir o posto do bom velhinho, vou pelo menos ajudá-lo com as entregas do mês:

 
Se você foi um bom leitor esse ano, e acha que merece ter um exemplar da Andross na sua estante, siga o perfil do @eucoracaolivros no Twitter e repita comigo:

 
“Nesse Natal, mereço o livro da Andross Editora que o @eucoracaolivros vai dar!”

 
Quem divulgar bastante essa mensagem, terá mais chances de ganhar presente do que se mandasse uma cartinha pro Pólo Norte. E sabe qual é o presente? Um exemplar de Marcas na Parede - Contos sobrenaturais, de suspense e de terror. 

 

 


“As marcas nas alvas páginas deste livro foram grafadas por uma sombria safra de escritores, dispostos a narrar histórias de medo, desespero e agonia sobre o submundo fantástico. Você não está só. O problema é a companhia...”








O sorteio vai rolar dia 24 de dezembro, às 18h. 


Boa sorte!






Estefânia

1 comentários:

miateixeira disse...

Muito boa a entrevista, Teffy! Ótimas idéias e iniciativa da editora!

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