Eu ♥ Resenhas: Sete Vidas



Autoras: Mônica e Monique Sperandio
Ano: 2011
Páginas: 204
Editora: Underworld
Edição:





"Nunca julgue um livro pela capa." - É muito difícil manter esse ditado em mente tendo em mãos o trabalho caprichadíssimo com que a Editora Underworld cobre seus títulos.  Sou obrigada a começar meu comentário de Sete Vidas, das gêmeas Mônica e Monique Sperandio, parabenizando a equipe da Underworld por cada detalhe da capa. Escolhi este entre todos os livros oferecidos no estande que a editora montou na Bienal do Livro 2011, tanto pela imagem da garota com ares de princesa medieval, quanto pela surpresa ao perceber a juventude das irmãs escritoras. Ter um romance publicado aos dezoito aninhos de idade não é para qualquer um, certo?  Então, vamos ao livro...

 
Logo de cara, percebi algo curioso: a capa que tanto me seduziu, na verdade, não tem nada a ver com a protagonista. A época da história não é representada no vestuário da modelo. A imagem ainda é bonita, mas faltou aquela conexão com a história que fizesse com que a personagem principal estivesse representada ali.

 
Outro ponto negativo que me incomodou um bocado foi o estrangeirismo transbordante do livro. Em cada nome, o sotaque da língua inglesa se faz notar. Aprilynne, Claire, Kaleigh são as amigas inseparáveis. Moonville é a cidade. Joy Lenz o nome do orfanato no qual as garotas vivem. A moeda de troca é o dólar. Até o clima e a vegetação descritos parecem próprios para um seriado de TV americano.

 
Não me entenda mal, amigo leitor. Não acho que seja obrigatório para escritores brasileiros que suas histórias sejam ambientadas em terras tupiniquins. Entretanto, essa história poderia perfeitamente se encaixar na nossa pátria mãe. Se algum fator da trama ganhasse com a transferência de cenário, eu aplaudiria a escolha. Não foi o caso. Senti falta daquele temperinho brasileiro que adoro encontrar nas obras nacionais. Uma pena...

 
Bem, deixando isso de lado, as autoras nos apresentam ao orfanato Joy Lenz, lar temporário da protagonista Aprilynne Hills, de suas amigas e suas rivais. Nenhuma parte da história desenvolvida neste orfanato conseguiu me empolgar. Há muitos clichês adolescentes se empilhando nas próximas páginas, como a rivalidade de grupinhos de garotas, as paquerinhas, as demonstrações de amizade estudantil e mais todos os elementos facilmente encontrados em qualquer material para leitores que ainda freqüentam o Ensino Médio. O dia-a-dia no orfanato não consegue valorizar as personagens secundárias, e foi um trecho cansativo de se ler. Sei que isso frustraria qualquer leitor maduro, mas é notável a forma que trechos como esses se comunicam bem com o público alvo das garotas. Então, se você já está cansado de romances teens, antes de começar a leitura, respire fundo e reúna bastante paciência.

 
Felizmente, há um recurso infalível para impedir que o leitor abandone o livro nessas horas: criar um mistério.
Em uma noite em que os gatos estão agindo de forma estranha, aparentemente perseguindo a protagonista, April encontra o cadáver de uma moça dentro do lago próximo ao orfanato. A polícia não é capaz de localizar a morta, e, para intrigar ainda mais April, a partir daquela noite, estranhos poderes que a garota nem sonhava possuir começam a se manifestar. Visão noturna, audição aguçada, e outras habilidades notavelmente felinas transformam a órfã rebelde em uma protagonista verdadeiramente interessante.

 
A origem de todo esse poder da heroína remete à mitologia do Egito Antigo, que é muito bem representada através de cenas ambientadas na época dos faraós. Para mim, a riqueza de detalhes ao descrever essa parte da história transformou o flashback no ponto alto do livro.

 
Obviamente, April decide investigar o que aconteceu com a garota morta, e também a origem de seus poderes. Para isso, conta com o apoio das garotas do orfanato e do bonitão Ian, já que um toquezinho de romance se faz necessário a um livro como esse. A função do rapaz é apenas a de construir um par romântico, pois April não depende do seu príncipe encantado para salvá-la e luta as próprias batalhas.


Qual a ligação entre o cadáver da garota, os poderes de April e a mitologia egípcia? Revelar isso aqui seria acabar com o grande trunfo da história, que é a criatividade das autoras. 


Sete Vidas se destaca na minha coleção de literatura fantástica adquirida recentemente por ser uma grata fuga das criaturas sobrenaturais que estão em foco no momento. Quem curte sagas com pitadas mitológicas e superpoderes dignos de X-Men vai abraçar com entusiasmo a proposta das autoras.
 
 
Embora a narrativa das gêmeas seja bem visual e fluida em boa parte do texto, em outras há diálogos artificiais, palavras repetidas e frases mal construídas, pecando principalmente pela ambigüidade. Acredito que essa irregularidade seja perdoável, levando em conta a inexperiência das autoras. Parágrafos não alinhados e travessões em lugares errados também me incomodaram um pouco. Pelo bem dos leitores, espero que a editora capriche tanto nas suas próximas revisões quanto costuma fazer com suas capas.


A originalidade demonstrada na obra de estréia é a prova de que as gêmeas Sperandio têm no DNA o elemento misterioso encontrado somente em sonhadores capazes de contar grandes histórias. Concluo com a impressão de que Sete Vidas é um livro de autoras “verdes”, que devem amadurecer bastante, mas que já podem se orgulhar do resultado que alcançaram.

 



Estefânia

3 comentários:

Leitoras Anônimas disse...

Nunca tive muita vontade de ler esse livro, até porque na própria sinopse eu já vi que era uma obra nacional "americanizada". Não gosto muito de quando os autores fazem isso, acho que desvaloriza muito a história. Outra coisa que eu já estava prevendo eram os clichês... ninguém merece uma leitura cheia deles! :/

Espero que as gêmeas consigam aprender com seus erros de primeira publicação e nos brindem com tramas mais ricas e originais futuramente!

Abraços,
http://leitorasanonimas.com

Milord disse...

Ótima resenha, Estefânia. Só um comentário: a editora sempre deve passar o texto para um revisor, mas, antes disso, um preparador de originais deve fazer justamente o que diz seu cargo: preparar o original. O trabalho desse profissional é "melhorar" o que o autor escreveu, como reparando diálogos, substituindo passagens e expressões clichês, só para citar dois exemplos. Logicamente o autor é consultado nessa fase. Muitas vezes, esse trabalho é feito juntamente com o autor. Isso é corriqueiro. Até grandes escritores entregam suas obras para preparadores de originais darem um "tapa" antes de ir para a gráfica. O importante é que a história publicada seja agradável ao leitor e sem erros. Obviamente esse profissional não foi utilizado na lapidação da obra. Da mesma forma, acredito que não houve cuidado na edição desse livro. Talvez nem um editor tenha prestado atenção nesse trabalho, uma vez que entre as atribuições de um editor está a elaboração de uma capa que condiga com o conteúdo.

Anônimo disse...

Vamos torcer para que as próximas obras das gêmeas se passem aqui no Brasil ;). Acho que teríamos muito a ganhar...

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