Salve, salve!
E sem perder tempo, vamos pra segunda
parte das resenhas sobre Sombras da Noite, que é o que interessa.
O Bicho-Papão: Essa história. Ok, que criança nunca teve medo do
bicho-papão? Ou do homem do saco, do chupa-cabra ou qualquer desses monstros
que nos impediam de dormir quando éramos pirralhos? Na trama, um homem é assombrado por essa criatura dos contos de horror e procura a ajuda de um psicólogo para contar sua experiência com um ser que, no início, ele
acreditava ser apenas uma invenção de seus filhos.
Trama muitíssimo
bem trabalhada quando trata os medos “infantis” sendo retratados pelo ponto de
vista de um homem adulto e, acima de tudo, cético, que acredita que seus filhos
estão mentindo ou inventando coisas. Afinal, até aquele momento, para ele
monstros não existiam. Ponto final.
O melhor
da trama é a construção narrativa que envolve a personagem: um pai de família
de mentalidade arcaica que se vê confrontado com uma realidade que ele
simplesmente jamais havia considerado. É compreensível, portanto, que ele tenha
achado que seus filhos estavam mentindo, mesmo em vista de circunstâncias dramáticas.
Traz lembranças
muito infantis dos nossos medos mais inocentes e que, aqui, Stephen King faz
virar medo de adultos. Acreditem ou não, eu olhei pro meu guarda-roupas
desconfiada na noite em que li esse conto, antes de dormir. Sério.
E o final é
um integrante do meu top 5 de finais favoritos do livro.
“-Vim vê-lo porque quero contar minha história – dizia o homem no divã do
dr. Harper.
O homem era Lester Billings, de Waterbury, Connecticut. De acordo com o
histórico anotado pela enfermeira Vickers, tinha 28 anos, trabalhava numa firma
industrial em Nova York, era divorciado e pai de três filhos. Todos falecidos.
-Não posso procurar um padre porque não sou católico. Não posso procurar
um advogado porque nada do que eu fiz justificaria uma consulta. Tudo o que fiz
foi matar meus filhos. Um de cada vez. Matei todos.”.
Massa Cinzenta: Eu adoro essa história e, particularmente, é uma das minhas preferidas.
Começa em
um bar, onde um grupo de amigos está bebendo. Repentinamente, um garoto chamado
Timmy, choroso, entra correndo no bar. O dono do lugar, Henry Parmalee, leva-o
para os fundos e descobre que o pobre menino está em desespero porque,
aparentemente, há algo errado com seu pai, Richie Grenadine – um homem
aposentado por invalidez que gasta muito de sua pensão com cervejas.
Confesso
que fiquei com muita pena do Timmy logo no início – e isso só se intensificou
justificadamente ao longo do conto. Depois disso, Henry chama dois outros
clientes que estavam no bar, Bertie e o protagonista que nos dá a visão da
história, para ir checar o pai do garoto. O nome da personagem, que narra tudo
em primeira pessoa, não é dito, ou, pelo menos, eu não vi ser citado em momento
algum. Enquanto caminham até o pequeno apartamento de Richie em meio à neve e
um vento congelante, Henry conta a eles o que Timmy lhe relatou... Algo
horrendo, macabro. E real. Enquanto o grupo vai até o apartamento sujo, num
prédio completamente abandonado, você se sente impelido a segui-los. O cheiro
de podridão dentro do recinto é tão intenso que chega ser palpável. Sufocante.
Clima de mega tensão durante todo o conto. A visão dada pelo protagonista dos fatos narrados por Henry, que foram ditos a ele por Timmy, e alguns dos acréscimos que ele mesmo, o narrador, faz à história, são pontos muitíssimo interessantes. O final é deixado em aberto, então você pode imaginar o que aconteceu e o que vai acontecer dali pra frente. Já perdi as contas de quantas vezes reli esse conto.
Clima de mega tensão durante todo o conto. A visão dada pelo protagonista dos fatos narrados por Henry, que foram ditos a ele por Timmy, e alguns dos acréscimos que ele mesmo, o narrador, faz à história, são pontos muitíssimo interessantes. O final é deixado em aberto, então você pode imaginar o que aconteceu e o que vai acontecer dali pra frente. Já perdi as contas de quantas vezes reli esse conto.
“O garoto disse que devia ter sido a cerveja – você sabe como, de vez em
quando, aparece uma lata estragada. Choca ou cheirando mal, ou verde como as
manchas de urina nas cuecas de um irlandês. Um sujeito uma vez me disse que só
é preciso um buraquinho de nada para deixar entrar bactérias que fazem coisas
bastante estranhas. O buraco pode ser tão pequeno que a cerveja mal se derrama,
mas as bactérias conseguem entrar. E cerveja é um bom alimento para alguns
desses bichos.”
Campo de Batalha: Nessa
história, John Renshaw, um assassino de aluguel, recebe um pacote contendo
soldadinhos de guerra com uma dedicatória suspeita. Brinquedos muito famosos
nos EUA, conjuntos de infantaria são marcos da história da indústria de
brinquedos americana (atualmente não tão famosos e feitos de plástico, ao
contrário do que acontecia há dois ou três séculos, época em que eram feitos de
chumbo). Mas esse, em particular... Pode não ser exatamente a melhor opção para
dar de presente para o seu filho no Natal.
Eu
digo o que já falei sobre os outros: é tenso e chocante. Quero dizer, você
recebe um livro na sua casa e ele começa a te atacar, se jogar na sua cara e
ameaça te cortar até a morte com as páginas. É muito surreal. Mas quando você
abre a mente e pensa... “E se...?” O conto acerta na medida para te deixar com
um gosto estranhamente ácido na boca ao olhar pros seus antigos brinquedos.
Apesar de
ser um conto de suspense e ação mais do que terror propriamente dito, é muito
gostoso de ler. Quem gosta de histórias de guerra vai curtir essa e reconhecer
alguns traços da estratégia usada pelos soldadinhos! Muito legal mesmo!
“Ei, crianças! Especial neste Baú do Vietnã!
(Promoção por tempo limitado)
1 Lança-mísseis
20 Misséis terra-ar “Twister”
1 Arma Termonuclear (Modelo em Escala)”
Caminhões: Como seria o mundo se os automóveis criassem vida
própria e se revoltassem contra os humanos? O que aconteceria se jatos, navios,
carros, motos, tratores... Se cada um desses automotores não fosse mais
suscetível ao nosso controle?
Um grupo
de pessoas fica preso numa lanchonete à beira da estrada quando essa revolução
dos automóveis começa. O conto narra os eventos que se arrastam e as pessoas em
suas desesperadas tentativas de sobreviver enquanto esperam que algo aconteça
para se vejam livres daquela realidade.
Ótimas
cenas de morte; há um trecho em particular que eu adoro. É quando um certo
personagem que todos julgavam morto começa a gritar do lado de fora, pedindo
ajuda; é meio da noite e ninguém o ouve, exceto o personagem principal e uma
garota. Ela diz que eles precisam ir ajudá-lo, mas o personagem principal
pergunta a ela se estaria disposta a abraçar a possibilidade de que o próprio
namorado fosse lá fora para resgatar o pobre homem e acabasse morrendo na
tentativa. A menina simplesmente arregala os olhos e afirma que também não
ouviu nada. Abraça o namorado e volta a dormir. O homem grita por horas, até
silenciar.
Isso demonstra um lado
não muito lisonjeiro dos seres humanos, mas extremamente real. Quem estaria
disposto, realmente, a enfrentar a morte para tentar salvar alguém que mal
conhece? Quem, de fato, numa situação daquelas, estaria disposto a arriscar?
Gosto especialmente dessa parte pela reflexão que ela traz.
E eu confesso, o último
parágrafo me fez sentir um ser humano bem pequenino, perto das catástrofes que
podem acontecer.
“O cozinheiro já está cambaleando um pouco. Também é um cara velho. Tenho
de acordar a garota.
Dois aviões deixam rastros prateados no horizonte que vai escurecendo, a
leste.
Gostaria de poder acreditar que há pessoas a bordo.”
Às Vezes Eles Voltam: História tensa que tem magia negra.
Sério.
Um professor
reencontra, já adulto, a gangue de marginais que causaram um evento trágico em
sua vida quando ele era criança e que parecem ter voltado para atormentá-lo.
Dessa vez, contudo, ele está decidido a não ser mais um garoto com medo dos
mesmos fantasmas que o infernizaram há tantos anos.
Clima de
super-tensão e agonia. Eu quase queria pular as páginas para saber como é que
ia acabar, fora o fato de que é possível vislumbrar, no desenrolar da trama, a
transição da personagem de um homem quase apático e assustado para outro mais
decidido, moldado especialmente pela dor de um acontecimento. Essa mudança é
essencial para o final e o arco narrativo é muito bem fechado e trabalhado.
Excelente para quem
gosta de histórias com ritual, demônios e cenas de mutilação.
“Ele veio pela calçada, segurando a pasta nova numa das mãos e quatro
livros didáticos na outra. Ela podia ver o título na capa do que estava por
cima – Introdução à Gramática. Pôs as mãos em seu ombro e perguntou:
-Como foi?
E ele sorriu.
Mas naquela noite, ele voltou a ter o velho sonho pela primeira vez em
muito tempo, e acordou suando, com um grito preso na garganta.”
Bom galera, essa foi a segunda parte da resenha de Sombras da Noite. Se você ainda não leu a primeira parte, pode conferir aqui.
Até a próxima!
Um beijo da heavy e boas leituras.
1 comentários:
Mulheeeeeeeeeeeeeer que coisa foi essa!!! Eu procurei o livro pra futucar e GZUZ!!!
É arrepiante!
Mas as suas resenhas dão um toque ainda mais instigante a cada conto! Sério!
Esse livro é de arrepiar até os cabelinhos de lugares que você não posta num comentário! E as suas resenhas, de instigar o mais cético dos seres humanos a procurar o livro com ânsias de experimentar a sensação de olhar de soslaio pro armário mais próximo!
Excelente amora! Cada dia melhor!!
Um beijo da flor!
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