Sobre os Preços de Livros

Quanto vale um livro? Muitos aqui poderiam citar, provavelmente, de R$1 até milhões de reais. Mas quanto valeria de fato tamanha preciosidade? Acho que medir o valor de um livro é tão difícil quanto medir o valor de um ser, porque o livro ensina, encanta e fascina quando tudo ao nosso redor se tornou cinzento.  A cada livro nos apaixonamos e odiamos mais uma vez e colocar um valor nisso tudo soa complicado. Mas deixando o valor significativo da obra literária de lado, falemos do valor físico e que dói no bolso de quem, como eu, é bookaholic.


Aqui no Brasil os livros custam caro, pelo menos mais caro que em muitos outros países. Isso é porque a tiragem de livros aqui é pequena,  enquanto outros países trabalham com tiragens médias de mais de 10 000 exemplares por edição, no Brasil esse número fica na casa dos 2 000. Mas por que não fazem tiragens maiores? Bem, partindo do principio que o mercado do livro aqui não é tão amplo como no exterior, há o medo que com tiragens maiores, os livros acabem encalhando. 

Como o mercado brasileiro se organizou com base nas pequenas tiragens, o preço final de um volume é sempre alto. Mesmo os best-sellers, que vendem feito água no deserto, custam caro, já que os editores fixam o preço com base em padrões (um certo x por página) estabelecidos a partir das baixas tiragens. A vantagem dos editores é que best-sellers dão mais lucro. E quase sempre compensam o prejuízo dos títulos que acabam encalhando nas prateleiras.

Veja, em porcentagens, para quem vai cada parcela do preço de capa que você paga na livraria:
Papel - Menos de 5%
Editor - Cerca de 25%
Autor - De 7% a 12%
Gráfica – Cerca de 8%
Distribuidor- Cerca de 15%
Livraria - 40%

Mas essa informação provavelmente você já deve ter lido em algum lugar, ela só funciona como base do argumento a seguir.

Como podem ver, os livros custam caro aqui por causa do número de tiragens. O problema disso é que muitas pessoas não tem acesso a comprar vários livros por mês, se você pode parabéns campeão. Para mim que sou da classe média é complicado fazer compras até mesmo em um sebo porque gasto facilmente R$100 em poucos títulos, quando os livros são novos então, pff... O que eu quero dizer é que há ainda muita dificuldade no acesso a leitura. Primeiro pelo valor, segundo pelo fator cultural e terceiro pela desvalorização da educação no país e esses são apenas os três primeiros fatores que vieram agora em minha mente, se pararmos para pensar, capaz de encontrarmos muito mais. Porém, nos atemos a esses três agora.

Começando pelo terceiro, o Brasil possui uma taxa de aproximadamente 9,7% de analfabetismo, isso porque se você conseguir assinar seu próprio nome já é considerado “alfabetizado”. E ainda assim, praticamente 10% da população brasileira é analfabeta. Certo que temos um território bastante grande e temos uma população bem numerosa, mas isso não serve como desculpa para o descaso. O número de evasão escolar também não é nada bonito. “Mas qual é o seu ponto, tia Jú?” Se uma pessoa não sabe nem ler, como vai comprar um livro e vai poder desfrutar de toda a preciosidade que é a literatura?

"Vocês precisarão ler o livro "X"
para fazer a prova"
Além do mais, a escola tem uma maneira terrível de abordar a leitura (pelo menos todas as que eu estudei) na qual obriga o aluno a ler determinado livro para poder fazer um trabalho obsoleto e raso sobre a obra. Para começar, todo o mundo – creio eu – odeia do fundo de sua alma ser obrigado a fazer alguma coisa. Não acredita? Lembre daquele dia que você pensou em arrumar seu quarto ou a casa para fazer uma surpresa para sua mãe ou outra pessoa, mas antes de você tomar a atitude, a bendita diz que quer ver tudo arrumado ou você vai ficar de castigo ou wathever, lembre como que com aquelas palavras - de repente - toda a boa vontade evaporou do seu ser. Você pode até arrumar a casa, mas não vai desfrutar da mesma sensação prazerosa de fazer aquilo porque você quis e achou que seria bom. Com a leitura (e creio que com as demais coisas) funciona da mesma forma. Mesmo que você tenha uma predisposição para ler, você não se sente feliz com o fato de “ter” que fazer aquilo. Muitos às vezes nem lêem e pedem cola durante o exame, eu sei disso porque eu dava cola. 

"Mimimi tenho que terminar
de ler o livro da escola, odeio ler!"
Para aqueles que estão iniciando no mundo literário primeiro conhecem essas trevas e começam a pensar que leituras são obrigatórias, criam preguiça para ler e passam a detestar livros mais que a brócolis (se você gosta de brócolis, você não é muito normal, dica). E assim essas crianças traumatizadas crescem com fobia de livrarias, o que é uma tristeza.

Aí chegamos ao fator cultural, essas crianças traumatizadas encontram a metade da sua laranja (ou pelo menos pensam assim), casam-se (ou não) e têm filhos. Como já não gostavam de ler, é muito provável que nunca passem o valor de um livro para o filho porque eles mesmos não conhecem. O que acontece então? Dos três, um: ou a criança é iluminada e decide ler por conta própria ou é induzida a leitura por terceiros (professores, amigos, etc) ou ela segue o caminho dos pais que é o que geralmente acontece e o ciclo se repete. Além dos pais não servirem de influência e já termos citados os problemas da escola e da educação brasileira que têm dificuldade até de manter seus alunos em sala. 

Em novelas, cinema, séries e outras mídias direcionadas para o público jovem grande parte das pessoas que lêem com afinco ou são nerds ou são aqueles que possuem popularidade quase nula. O que é completamente absurdo. É quase uma lavagem cerebral na cabeça do jovem (geralmente inseguro e quer ser popular, dadivoso, vampiro brilhante –n). A leitura geralmente é abordada como algo “chato” assim como fazem também com a música erudita, mas isso já é outro assunto...

Enfim, essas pessoas que não conseguiram uma boa educação, seja por falta de professores e pela precariedade do ensino público ou pelo descaso com que lidaram com a escola durante o período de estudos, terão um pouco mais de dificuldade em conseguir altos cargos, claro que isso não é uma regra e toda generalização é possivelmente errônea, mas vamos adotar isso como um ponto para chegarmos ao primeiro tópico que comentei.

Os livros são caros e se você receber apenas um salário mínimo por mês, viver de aluguel, provavelmente não terá chances de comprar muitos livros porque até para se alimentar com essa esmola mínima é complicado, sejamos sinceros. É claro que você pode ir a uma biblioteca e pegar um livro vez ou outra para ler, mas a questão que quero tocar aqui é a possibilidade de comprar. Livros serão considerados “artigos de luxo” (ai, ai, isso me remete a idade média em que as pessoas tinham “livros” de madeira só para fingirem que eram cultas).

Há uma coisa que o Vianco disse em uma entrevista ao site Forforks há algum tempo e que eu acho que vale a pena citar aqui.

Forfoks: O que você acha do preço dos livros no Brasil, sem colocar como caro ou barato ou sem comparar com outros países, você acha que para a nossa realidade o livro é acessível para a grande população?

André Vianco: É uma questão curiosa essa. Livro no Brasil é caro, fato. É caro porque raramente um adolescente, até mesmo adulto trabalhando, consegue entrar numa livraria e sair com dez livros debaixo do braço numa boa, sem ter que planejar como pagar tudo isso. Contudo, é também um lance cultural. Conheço muuuita gente que fala, putz, que livro caro esse o seu! Meus livros, em média, saem por 40 reais. Acontece que essas pessoas que dizem que não tem 40 reais para comprar um livro, na verdade não têm é coragem para dar essa grana num livro. Talvez imaginem que seja um gasto mal feito, porque essas mesmas pessoas saem na balada e gastam horrores com bebidas e entradas e no dia seguinte, aquilo tudo já era. O livro a gente compra e, quando bem cuidado, ele fica para sempre. Eu mesmo, se saio com a família para comer uma pizza, morre fácil 80 a 100 paus na noite. Mas na hora que a gente vai para uma livraria fica pensando, pensando se compra ou não o bendito do livro.

Acho que André conseguiu resumir o que se passa na cabeça de muita gente e eu não poderia concordar mais. Eu mesma titubeio quando vou comprar um livro, mas também eu gostaria de levar a livraria praticamente inteira, porém, como disse, não posso me dar a esse luxo e só posso escolher uns três livros no máximo, já que sou da classe média como uma boa parte da população brasileira.

Em suma, as livrarias produzem tiragens pequenas > poucas pessoas gostam de ler > poucas pessoas recebem influência para a leitura > grande parte é da classe média e não pode comprar uma grande quantidade de livros > menos livros “rodando” e mais livros encalhados > tiragens menores ainda e preços mais altos > menos pessoas comprando... É um ciclo com um final bem triste, acho que a única solução seria se houvesse um incentivo maior e mais efetivo por parte não só da mídia, mas do governo e dos pais.

E não vale se prender só a uma literatura. É sempre bom variar e ler livros da Rússia, Itália, Alemanha, Inglaterra, Japão, etc; mas não vamos esquecer a literatura nacional, não é? Acho que já passou da hora de todo o mundo acordar que moramos em um país que é muito mais que tropical, do samba e do futebol. A literatura brasileira é riquíssima e a cada dia apresenta novos talentos com obras maravilhosas, então vamos parar de descriminar o que é nosso.

Fontes: IG, Super Interessante.

0 comentários:

Postar um comentário

- Agradecemos a leitura do post e adoraríamos saber a sua opinião.
- Responderemos o seu comentário aqui mesmo.
- Comentários ofensivos/preconceituosos serão deletados.

 
Eu ♥ Livros © 2010 | Designed by Chica Blogger | Back to top