Eu ♥ Resenhas: Mãos de Cavalo



Título Original: Mãos de Cavalo
Autor: Daniel Galera
Número de Páginas: 189
Editora: Companhia das Letras










"O tema principal do livro é a identidade, a obsessão que temos por defini-la e a inutilidade geral desse esforço", diz o autor. "Até que ponto é possível decidir como queremos ser e que imagem os outros terão de nós? Talvez definir isso racionalmente seja tão inviável quanto decidir se queremos ou não amar uma determinada pessoa."

Um pequeno garoto de dez anos percorrendo as ruas da zona sul da cidade de Porto Alegre com a sua bicicleta é o início de nossa jornada pela descoberta da identidade de Hermano. O que um tombo e o contato com uma velha senhora pode nos revelar?

O sangue que escorria dos ferimentos do garoto era um sangue escuro, sangue-ruim, e era bom que ele fosse todo embora. Como essas palavras afetaram o menino é algo que os leitores de Mãos de Cavalo podem perceber ao descobrirem a adolescência do garoto que, apaixonado pela virilidade e, desconhecendo a diferença entre heroísmo e masoquismo, encontra-se confuso e perdido, buscando uma definição para a identidade do que ele poderia ser.

O livro transita entre três fases da vida de Hermano, personagem central da trama. No princípio, o encontramos como um pequeno garoto de dez anos, e depois, alternamos entre sua adolescência e sua fase adulta. Nas duas fases, no entanto, percebemos um ponto em comum: a busca de Hermano por sua identidade; a descoberta que ele quer fazer dele mesmo.

Com o decorrer da obra, nos deparamos com fatos que aparentemente não possuem nenhuma relação entre si. Os tombos de bicicletas, uma brincadeira no banheiro envolvendo sangue falso, um parto de cesariana que não envolvia anestesia, uma disputa em um campo de futebol, uma viagem à Bolivia com fins "alpinísticos", um sonho sem dentes...

Todas essas memórias, que inicialmente são totalmente desconexas, começam a se conectar como um quebra-cabeças ao decorrer da história. O livro, que se transforma em uma auto-análise do próprio personagem sobre suas ações passadas e sobre o seu futuro desconhecido, começam a transformar o caráter do personagem, que sente-se farto da covardia que ele acredita ter assombrado sua vida durante muitos anos, quando tudo com o que ele sonhava era o heroísmo e a virilidade dos heróis que via na televisão, nos quadrinhos e nos filmes.

Sonhando com esse heroísmo, Hermano espelha-se em sua adolescência em um dos garotos do bairro, com quem tivera conflitos em um evento em particular. O rapaz, que possuía uma má fama pelo bairro acaba se tornando um companheiro, ainda que silencioso, do personagem principal. Mas a amizade encerra-se com uma tragédia que transforma-se em um fantasma chamado covardia que assombra Hermano por muitos anos.

Os personagens da obra, em geral, são apresentados pelo autor conforme a necessidade exija que assim seja feito. Embora não saibamos muito sobre todos eles, os personagens apresentam uma profundidade absurda, tornando-se tão palpáveis quanto humanos. Toda a turma que Hermano possuía em sua adolescência passava diante de meus olhos conforme eu lia as descobertas e aventuras (ou desventuras, quem sabe) do rapaz.

Possuindo uma escrita visível, que chega a ser quase cinematográfica (e ah, como seria um belo filme!), Daniel Galera presenteia os seus leitores com uma interrogação sobre o que é a identidade humana. O que nós somos? Como nos definimos, o que queremos? Será que sabemos tudo que imaginamos saber sobre nós mesmos, ou ainda tenhamos dúvidas do que somos?

O autor concede à Hermano uma segunda chance em sua obra, e ele a agarra com todas as suas forças, para tentar espantar os fantasmas de seu passado que, assombrando o seu presente, fazem com que o protagonista tema o seu próprio futuro.

Quero encerrar por aqui, para não me estender demais e acabar revelando mais do que deveria. Mas não sem antes dizer: posso ter sido vago nesta resenha, mas só o fiz assim para despertar a curiosidade de vocês, leitores, para essa fantástica obra de nossa literatura brasileira, que deixou muitas obras estrangeiras que já li para trás. Pelo menos, na minha modesta opinião.

1 comentários:

Anônimo disse...

ql os principais personagens?

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