Eu ♥ Resenhas: A Estrada da Noite

Título Original: Heart-Shaped Box
Autor:
Joe Hill
Ano:
2007
Páginas:
254
Editora:
Sextante
Edição: 1ª Edição

O livro de terror mais bem escrito que li nos últimos tempos. A razão? Simples: causar tensão e susto sem o auxílio de trilhas sonoras ou de imagens sanguinolentas é o grande desafio de quem escreve esse gênero, e "A Estrada da Noite" conseguiu isso com primor. Incrível a forma que palavras impressas em papel me fizeram arrepiar e olhar sobre os ombros com a impressão de estar sendo observada. Um livro que cumpre a proposta inicial.
Pode-se dizer que o autor traz no DNA a inspiração para o macabro. Ele até tentou esconder suas origens através de um pseudônimo, mas o disfarce não durou muito. Logo foi revelado que Joe Hill é, na verdade, Joseph Hillstrom King - um dos filhos do mestre do suspense Stephen King com a romancista Tabitha King. O nome do pai, obviamente, direcionou os holofotes da mídia para o trabalho de Joe. Eu fui mais uma leitora curiosa para conferir se o talento de King tinha herdeiro, e por isso comprei “A Estrada da Noite”. Depois de poucas páginas, já tinha a resposta para o dilema: SIM! 

Deixando a comparação de lado, a atenção dirigida ao segundo livro de Joe Hill se provou merecida.
O autor soube criar personagens com um poder de empatia sensacional. Jude Coyne (trocadilho com “moedas de Judas”, em inglês) não é o protagonista simpático de costume. Roqueiro de meia-idade, Jude é o único sobrevivente de uma banda metaleira que foi sucesso no passado. Dá para fazer uma trilha sonora das boas para a história com as bandas que Jude cita como influências. O roqueiro cumpre seu papel entre altos e baixos. Tem alguns momentos heróicos, mas também deixa de agir por medo, comodismo, ou simplesmente por não se importar o bastante. Abandonou quase todos os vícios, mantendo apenas um: namorar meninas mais novas, góticas, e sensuais. A namorada da vez atende pelo apelido de Geórgia (Jude nomeia as namoradas em homenagem aos seus estados de origem), e é a personagem que mais cresce ao longo da história.


“Vou vender o fantasma do meu padrasto pelo lance mais alto...”

O livro começa com a oferta , via e-mail, de um produto que promete coroar a coleção de objetos macabros de qualquer maluco: um paletó assombrado. O roqueiro que possuía crânio humano, laços usados em forcas, livro de receitas para canibais, e até a confissão assinada de uma bruxa, não foi capaz de resistir à chance de aumentar seu conjunto de horrores. Intrigado, e divertindo-se com a idéia de comprar um fantasma, Jude pede que seu assistente, Danny, requisite o objeto. O paletó do morto chega dias mais tarde, numa estranha caixa negra em formato de coração, e parece assustar os cães de Jude a ponto de fazer as feras fugirem com o rabo entre as pernas. O próprio Jude sente calafrios inexplicáveis ao ver Geórgia vestir o paletó, e resolve devolvê-lo à caixa e deixá-lo longe das suas vistas. Porém, a presença do paletó na casa é o suficiente para que Jude comece a ver um terceiro morador pelos corredores. Um velho, vestindo o paletó, parece estar por toda parte. Trata-se do fantasma de Craddock McDermott, padrasto de uma fã com quem Jude se relacionou no passado e que, após ser dispensada por ele, cometeu suicídio. Ao se dar conta da armadilha em que se meteu, Jude tenta devolver o paletó, mas a vendedora ri do desespero do roqueiro, e confessa que essa era justamente sua intenção inicial: enviar o fantasma assassino de Craddock para que Jude pagasse por seus pecados. O que torna o fantasma ainda mais perigoso é que Craddock, quando vivo, era especialista em hipnose, e a morte não diminuiu em nada suas habilidades. Sugestões de homicídio e suicídio começam a se infiltrar na mente de Jude, Geórgia, Danny e qualquer um que se aproxime do objetivo de vingança de Craddock. A partir daí, a paz do casal está oficialmente terminada. A casa não é mais segura, e a fuga de Jude e Geórgia a bordo do Ford Mustang 1965 não desacelera em nenhum momento. Cheio de fantasmas no armário – literalmente – Jude é obrigado a enfrentar cada um deles para tentar sobreviver a caçada implacável que ameaça levar tanto ele quanto Geórgia a percorrer a estrada que leva ao mundo dos mortos.

"Mais cedo ou mais tarde os mortos nos alcançam..."

A idéia mais interessante de Joe Hill a respeito dos espectros é a seguinte proposta:
E se você pudesse planejar sua participação no mundo após a morte? Morrer com um plano construído, pronto para pôr em prática assim que a alma deixar a prisão de carne e osso. Do que – ou de quem – você viria atrás, se soubesse exatamente como resolver seus assuntos inacabados quando se tornar um fantasma? Premeditar sua assombração é possível, caro leitor. Basta treinar a mente. Aprendam com o nosso amigo Craddock como se transformar num mortífero espectro do mal para tirar o sono – e a vida – de qualquer desafeto.

"- Por que você tem de fazer todas essas malditas perguntas? – Ele quis saber. [...]

- Prefiro fazer perguntas – disse ela – a respondê-las."

Outra questão que o livro aborda é o abuso infantil, e o quanto o trauma impacta na formação do ser humano. Mais de um personagem traz essa cicatriz invisível, derivada tanto de violências sexuais quanto de torturas físicas sofridas ainda na infância. Revelar muito sobre esse aspecto da história acabaria com a graça de lê-la. Entretanto, posso afirmar que o leitor que reflete a respeito do livro após terminá-lo, consegue enxergar que o passado pode ser o pior tipo de assombração para qualquer pessoa.

“Se o inferno fosse alguma coisa, seria conversa de rádio – e família."


Joe Hill construiu uma trama ágil, que consegue mostrar o passado de cada personagem sem atrasar a ação da história. Ação, aliás, é a marca registrada do autor, que não dá chance para o leitor recuperar o fôlego durante a corrida desenfreada dos personagens em direção ao palco da cena final – o lugar de origem dos pesadelos de Jude.

“A Estrada da Noite" se tornou uma viagem melhor e mais intensa do que eu esperava.

5 comentários:

Leitoras Anônimas disse...

Amei a resenha, também já li esse livro e adorei! Embora eu nunca tenha lido nenhuma obra do Stephen King, ouvi dizer que ele escreve muito bem, e essa habilidade do Joseph com certeza veio do sangue... rsrs
Eu amo livros de terror/suspense, me apaixonei pela forma como foi narrado o livro! Pretendo buscar outros títulos do autor em breve :)

Abraços,
http://leitorasanonimas.com

Juliana disse...

Sério que gostaram tanto assim? ♥
Eu tinha, mas nem consegui terminar de ler. Não atraiu minha atenção, embora tivesse passagens interessantes como as que citou.
Mas uma colega que leu, gostou tanto que me deixou na dúvida se o problema é comigo~ todo mundo amou, é? :3

Mariana B. Sampaio disse...

Nossa, que bacana! Dá para entender o porquê do pseudônimo, pois ninguém quer estar a sombra do pai, não é? Eu não quereria, se ele fosse o Stephen King!
Realmente, parece ser muito diferente, e a sinopse e resenha me deixaram intrigada!
Com certeza lerei!

Beijos.

Mariana Sampaio
Blog Tijolinhos de Papel

Momentos de leitura disse...

Oi...
Adorei se cantinho!
Gostei da resenha, já comprei o livro e tô doida para ler!
Seguindo!
Abraços

asya disse...

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