Projeto Editorial
por Roxane Norris
Parte II - Revisor
Georgette Silen
Georgette Silen é revisora da Editora Literata, além claro de um excelente escritora. Com o tempo atribulado, mesmo assim, ela veio deixar sua marquinha aqui nessa entrevista deliciosa:
1 –O trabalho de um revisor, muitas vezes se mistura ao de
coautor da obra que tem em mãos por vários aspectos, e entre eles a coerência e
o desenvolvimento da narrativa. Dentro desse contexto, podemos qualificar esse
tipo de revisão como literária (copydesk),
já que seria uma visão bem abrangente do trabalho do autor. Especificado esse
ponto, que tipo de trabalho você costuma fazer, uma revisão literária ou normativo-ortográfica
das obras da editora?
G.S: Olá Roxane, obrigada pela entrevista. Espero que os
seguidores do blog apreciem esse nosso bate-papo.
Antes de responder a essa pergunta, acho interessante
esclarecer as diferenças entre a revisão ortográfica e o copidesque.
O copidesque, em geral, é feito pelo editor ou por pessoa
designada por ele, e tem como finalidade o aperfeiçoamento do texto, buscando
sanar todas as incoerências que por acaso apareçam na narrativa, analisando os
pontos altos e baixos e buscando alcançar uma homogeneidade de trabalho. É
muito mais complexo que a revisão, pois o copidesque propõe mudanças,
reescritas, avaliações, tudo com o objetivo de “relavrar” um texto, tornando-o
o melhor possível para o mercado e o leitor.
A revisão ortográfica seria uma etapa posterior ao
copidesque. Com o texto já finalizado, o revisor procura por falhas
ortográficas, problemas de acentuação, pontuação, normativas e adequação às
normas vigentes. O revisor passa um pente fino em todos os possíveis erros
encontrados e os corrige.
Em teoria, são trabalhos diferentes feitos por profissionais
diferentes, mas em alguns casos uma mesma pessoa pode fazer as duas coisas.
Como sou autora, é impossível para mim quando reviso um texto deixar de prestar
atenção aos detalhes da narrativa. Se encontro passagens no texto que eu vejo
que necessitam de maior atenção por parte do autor, eu as aponto, recomendo a
reescrita, exclusão de trechos, mudança de posicionamento de frases ou
parágrafos, entre outros.
Mas ambos os trabalhos, revisão e copidesque, são diferentes,
e o ideal é que todas as editoras tenham pelo menos um profissional de cada
para trabalhar os textos dos autores.
2 – Ainda dentro do contexto anterior, você e a editora
costumam acordar previamente como será a revisão feita, ou dependendo da obra,
há uma flexão que permita um trabalho mais extenso, como no caso a revisão
literária? Se não, alguma vez você sentiu necessidade de solicitar uma revisão
literária de uma obra, ou ao menos, sugerir que fosse feita? Foi complicado
lidar com isso?
G.S: Quando recebo um pedido de revisão por parte da editora,
eu solicito previamente o envio de um capítulo da obra para que eu possa
analisar em que estado ela se encontra. Se nessa análise eu vejo que ela se
enquadra apenas na categoria de revisão ortográfica, fechamos o trabalho nesse
sentido. Mas caso eu perceba que o texto necessita de copidesque, eu comunico a
editora e traçamos um plano de ação sobre ele, incluindo aí todas as etapas e
cronogramas necessários. Nunca tive problemas nesse sentido por parte de
editoras, elas sempre atenderam as minhas solicitações. Com autores, às vezes,
é um pouco mais complicado, pois trabalho com texto e ego ao mesmo tempo, e
alguns não gostam de determinados apontamentos feitos pelo copidesque. Mas tudo
é questão de conversar, mostrar a que se destina o trabalho e qual será o
resultado para ambas as partes, editor e autor.
3 – Seguindo essa linha, você costuma sugerir ou mesmo impor
como normativa de trabalho um formato para que o livro chegue a suas mãos que possa
de alguma forma torná-lo mais conciso?
G.S: De praxe, eu solicito que os textos sejam enviados em
fontes Times ou Arial 12, espaçamento 1,5 entre linhas, A4, com margens de
2,5cm. Esse é o padrão que utilizo para orçar um trabalho. Dependendo do número
de páginas, existe um prazo que pode ser menor ou maior para a revisão. Quanto ao
tipo de trabalho a ser executado, tudo depende da análise do primeiro parágrafo
para decidir se será uma revisão ou copidesque.
4 – Certamente, no seu trabalho, uma das coisas mais
corriqueiras são os famosos vícios de escrita. Entre eles temos o miguxês
(termos da internet que acabam parando nas linhas de um livro, sem o autor se
dar conta) e também alguns erros de fonética que são inseridos por não haver a
visualização dele no cotidiano, como por exemplo: (me desculpem os cariocas,
pois sou uma também) “mais” quando se deveria usar “mas”. Qual destes erros é
mais comum de você observar? E, como citei o “carioquês”, você chegaria a
regionalizar certos erros recorrentes no texto?
G.S: Por incrível que possa parecer, eu nunca me vi frente a
frente com erros de escrita provocados pela internet. Nenhuma contração, ou miguxês, apareceram nesse sentido. Com
relação aos vícios de linguagem, os mais comuns são os excessos de
interjeições, como “já”, por exemplo, e que são corrigidos. Agora, em relação
aos regionalismos, é preciso que se entre em comum acordo com autor-editora. O
regionalismo, em si, não é um problema, afinal, somos um país de muitas
sonoridades que se refletem na escrita. Mas dependendo da quantidade de
palavras e expressões que se apresentam, ele pode limitar o texto do autor à
apenas um público leitor, e isso pode gerar estranheza ou mesmo rejeição à
obra. Como eu disse antes, tudo depende de um planejamento e análise que deve
ser feito previamente, antes de se editar um livro.
5 – Até hoje, qual foi seu trabalho mais desafiador?
G.S: Poderia citar vários, mas os que me deixam sempre mais
animada e demandam mais energia são os copidesques, sem dúvida. Por que, de
certa maneira, estou lidando com a criatividade do autor aliada a minha visão de
como torná-la ainda mais interessante, então os copidesques sempre são mais
desafiadores.
6 – Eu observei que o revisor costuma trabalhar por laudas –
uma lauda corresponde a 1.400 caracteres com espaço (20 linhas de 70 toques).
Dentro da variável de 250 a 350 páginas, qual é a média de tempo que você
costuma levar para entregar seu trabalho à editora?
G.S: Eu trabalho por páginas, formato A4, nas descrições que
mencionei acima. Não utilizo laudas. E como disse antes, tudo depende do tipo
de trabalho contratado. Uma revisão ortográfica é relativamente mais rápida do
que um copidesque. 250 páginas de uma revisão podem ser feitas entre 20 e 30
dias, mas um copidesque demandaria bem mais tempo. Dependendo do estado do original
ao chegar as minhas mãos eu estimo um prazo de entrega para a editora, nos dois
casos.
7 – Qual recurso você costuma usar para corrigir os erros na
obra? E depois do texto revisado, ele volta às mãos do autor para aceite.
Alguma vez o texto já retornou dessa avaliação para uma nova revisão?
G.S: Eu utilizo manuais de nova ortografia, dicionários,
manuais de ortografia e gramática e sempre procuro novas publicações
relacionadas à área. Existe muito material bom sendo publicado sobre o assunto.
Além disso, tive formação em Literatura na faculdade, em português
instrumental, e isso acrescentou muito ao meu trabalho.
O trabalho de revisão ou copidesque segue sempre essa
direção: revisão – análise do autor – aceitação do autor – retorno para a
revisão – fechamento da obra para diagramação.
Os apontamentos do autor são levados em consideração em todo
o processo, e tudo é feito com o consentimento dele.
8 – Fale um pouco sobre como você vê a importância de seu
trabalho para a qualidade do projeto final – ou seja, o livro na prateleira – e
como é encontrar um pedaço seu em cada um deles. É emocionante?
G.S: A revisão literária, o copidesque, a preparação de texto, a
diagramação, a capa, enfim, todo o trabalho que existe em um livro antes que
ele vá para a gráfica e depois seja distribuído para as livrarias é de suma
importância. A qualidade final do que o leitor terá em mãos depende desse
trabalho que considero como a base da qualidade editorial. Um leitor atento
percebe, de longe, quando essas etapas foram negligenciadas por uma editora.
Uma capa mal feita, uma diagramação apertada, uma revisão que não corrigiu o
que era necessário são erros gritantes, crassos até, e que depõe contra a obra,
o autor e a editora. Esse conjunto de base deve ser feito com esmero, com investimento,
e infelizmente tenho visto que muitas editoras não têm dado a devida atenção a
isso, buscando economizar nos trabalhos de suporte. Um erro que a longo prazo
trará seus danos.
Embora poucos leitores sejam atentos aos nomes da equipe
editorial que ajudaram a compor uma obra, eles existem, constam no livro, e são
profissionais que merecem ter seu esforço reconhecido.
Para mim, cada livro foi uma aventura diferente, algumas
suaves e outras mais pesadas, que demandaram mais ou menos esforço, mas, sem
dúvida, únicas. E por todos eu tenho o maior carinho.
Roxane, eu agradeço esse espaço, essa oportunidade de
bater um papo com os seguidores do blog, e deixo aberto aqui os meus canais de
comunicação: e-mail missgette@yahoo.com.br, twiter @georgettesilen e pelo
facebook. Por qualquer um o leitor poderá entrar em contato comigo sempre que
desejar.
Abraços
Georgette Silen
Obrigada à você querida, pelo carinho!
O blog está aberto para vocês todos.
Beijokas
Roxane Norris
1 comentários:
Adorei!!
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