Projeto Editorial
por Roxane Norris
Susy
Ramone
autora
Susy Ramone é uma autora extremamente simpática e fofa, que eu tive a oportunidade de conhecer e trazer para vocês nesse último dia de Projeto da Editora Literata. Quem quiser conhecer essa autora e nosso diagramador, Rochett Tavares pode estar passando este sábado depois das 14Hrs no Pier 1327, na Vila Dona Mariana.
Agora vamos desvendar os segredos dessa autora...
1 – Você é professora de
Inglês, cursou Faculdade de Letras, o que trouxe dessa sua bagagem para “O
Castelo Montessales”?
S.R: Bem, comecei a aprender
inglês aos oito anos de idade. Aos dezesseis, já era monitora em uma escola de
idiomas e aos dezoito já lecionava. O curso de letras só veio mais tarde, o que
despertou em mim o desejo de escrever em prosa. Durante a adolescência eu
costumava fazer poemas. Sempre tive certa facilidade com as palavras, mas até
então jamais havia me passado pela cabeça a possibilidade de criar histórias.
Foi durante uma aula de
teoria da literatura que comecei a rabiscar um conto. Ele acabou ficando muito
longo e se tornou um livro; O anjo maldito.
Depois eu comecei a
construir histórias curtas. Os contos que fiz, os livros que li e as criticas
que recebi me trouxeram uma valiosa bagagem literária. Graças a esta bagagem eu
escrevi o Castelo Montessales. Acredito já ter encontrado uma identidade
própria ao que se refere ao meu modo de escrita. Porém, minha expectativa
futura quanto às composições dos meus textos, é que esta bagagem seja ampliada.
Para isso é preciso ler muito e escrever sempre.
2 – Em “O Castelo
Montessales” você não aborda somente o tema sobrenatural. Trata de conceitos
sociais muito amplamente discutidos nos dias atuais como o abuso sexual. Como
foi trabalhá-lo dentro do contexto de seu livro, e como vê essa temática
trabalhada no âmbito acadêmico? Há alguma correlação implícita?
S.R: É importante ressaltar que
os habitantes do Castelo não têm a menor possibilidade de se reunir em
sociedade fora dos arredores. Estando presos, não podem compreender que o
incesto é um tabu em quase todas as culturas. Não encaram a endogamia como
pecado, mas sofrem por saber que os ataques abusivos não vêm diretamente das
pessoas com quem vivem. Os homens são manipulados, têm seus corpos possuídos
por Antony, um fantasma cujo objetivo é procriar. Ele precisa dar continuidade à
linhagem por um motivo específico. Toma os corpos dos homens e vai plantando
filhos nas mulheres, com ou sem o seu consentimento. Eles não se lembram
depois, e elas amargam a violência sofrida por não poderem culpar os seus parentes.
A maioria das mulheres sabe quem é o verdadeiro agressor e os pobres homens nem
sequer sonham terem um dia abusado de suas meninas.
Infelizmente sempre
estivemos cercados por uma realidade vergonhosa. Os abusos sexuais são frequentes,
mas mais frequentes também se tornaram as denúncias. Obviamente ainda existem
vítimas que, por inúmeros motivos, se calam. Tenho percebido, porém, que as
crianças e jovens estão cada vez mais instruídos quanto aos seus direitos.
Através da mídia em geral, dos pais e professores, eles encontram segurança
para denunciar qualquer abuso que venham a sofrer, seja ele de caráter físico
ou moral.
Trabalhar esta temática no
livro foi por vezes doloroso, principalmente por saber que em algum lugar, alguém
pode estar passando por problema semelhante. Mas eu diria que não existem
correlações com a vida real, uma vez que os monstros que habitam a humanidade
sabem muito bem o que estão fazendo, ao contrário dos personagens, que são
marionetes nas mãos de uma força oculta.
3 – Bruxas, fantasmas,
elementos mágicos. Isso por si só já apimenta uma trama, mas você descreve
cenas eróticas no livro. Algum cuidado especial lhe passou pela cabeça na hora
de compô-las? Até que ponto o horror se mistura ao prazer na trama?
S.R: Cuidados foram tomados, sem
dúvida. Apesar de escrever para adultos, eu sei que muitos de meus leitores são
adolescentes. Muitas das cenas eróticas que descrevi, estão subentendidas.
Acredito não ser necessário o uso de palavras de baixo calão para narrar uma
cena de sexo. O objetivo principal é oferecer ao leitor, além de uma história,
a possibilidade de imaginar. Às vezes o indizível é bem mais atraente do que o
explícito. Contudo, devo admitir que há, sim, algumas passagens mais picantes,
mas nada que o meu filho de quinze anos não saiba ou não possa ler.
Quanto à mistura de horror e
prazer, cada personagem tem o seu próprio ponto de vista ao que se refere aos
abusos. Uma sobrinha apaixonada pelo tio, por exemplo, não encara o assédio de
forma dolorosa. O horror maior e mais cruel é aquele que vem contra a vontade,
com violência, tirando a dignidade das mulheres, cuja única alternativa é se
calar. Mesmo compartilhando a mesma dor, elas receiam ser humilhadas pelas
outras e acabam guardando, durante anos, o peso dos seus segredos.
4 – Fala um pouco do
processo de criação dos personagens de “O Castelo Montessales”.
S.R: A primeira personagem que
criei foi Manoela Montessales. Uma mulher portuguesa que nasceu em 1540 e
levava uma vida tranquila até conhecer o espírito de Antony. Ele transmitiu a
ela os seus conhecimentos e antes que Manoela percebesse, já estava envolvida
em enrascadas e fugindo dos inquisidores.
Na época, eu estava lendo A
Hora das Bruxas de Anne Rice. Inspirada na família Mayfair eu passei a traçar o
perfil das personagens da família Montessales. A árvore genealógica abrange o
período da Inquisição Portuguesa que se estende até 1821.
Com esta turma eu fiz alguns
contos. A semelhança com os Mayfair, porém, jamais passou da construção das
personagens. Os enredos dos contos sempre foram bem distintos, de modo que o
leitor não pudesse relacionar as duas famílias, caso eu não revelasse.
Então, um dia, o que era
para ser um texto curto se transformou no livro. Tracei outra árvore
genealógica da linhagem nos dias atuais, e são essas pessoinhas que o leitor
encontrará nas páginas do Castelo. Elas descobrirão que a herança deixada pelos
seus antepassados vai além de um fantasma. Compreende uma promessa feita na
Idade Média. Promessa que os levará a desvendar os mistérios que os cercam e os
motivará a romper o ciclo de desgraças que Manoela os colocou.
5 – Como foi a sua busca por
uma editora que investisse no seu livro tanto quanto você?
S.R: A primeira publicação de um
autor é sempre a mais difícil. Tendo passado anteriormente por uma editora, eu
já sabia exatamente o que eu queria e o que eu não queria para o meu segundo
livro.
Fiz uma pesquisa, colhi
informações com outros escritores e analisei as melhores opções. Só então
enviei os originais para a editora Literata, que para a minha surpresa
respondeu rapidamente. Entretanto, a resposta que recebi não foi bem a que eu
esperava. O editor me explicou que as edições daquele ano e do próximo já
haviam sido fechadas. Perguntou se eu podia esperar e eu, mesmo desanimada,
disse que sim, que esperaria.
Voltei a me dedicar aos
contos do blog e aos textos para as antologias. Na semana seguinte, Eduardo
Bonito, o editor, me escreveu dizendo que havia lido o Castelo e gostado
bastante. Por este motivo, o publicaria já no inicio de 2012. Fiquei muito
feliz. Escolher a sua editora e ser recebido por ela, é realmente muito
gratificante.
6 – Vou abrir esse espaço
para você falar mais um pouco do seu livro e deixar um recado para o autor que
está começando agora. Pode ser até mesmo uma dica que ache essencial.
S.R: Quanto ao Castelo
Montessales, há muito o que falar. Por este motivo, convido a todos para conhecer
este universo em www.montessales.blogspot.com.br. No
blog eu conto como surgiu a ideia, falo das personagens, dos envolvidos no projeto
e disponibilizo os contos avulsos da saga das bruxas; aqueles que precederam o
livro. Lá também tem o prefácio de Alfer Medeiros e a sinopse de Georgette
Silen, além de outras curiosidades.
Para o autor que está
começando, eu digo que a perseverança jamais pode faltar. Se o que você faz é
realmente bom, (e não porque a sua mãe falou, mas porque você já recebeu
críticas sérias) então vale a pena persistir. E mesmo que não esteja bom ainda,
mas você sabe que é verdadeiramente isso o que quer, vale a pena persistir
também. Lembrando que para escrever é preciso ler. Com o tempo, os olhos vão
percebendo as falhas nos textos antigos. E isso é muito bom. Significa que a
bagagem ampliou e que você evoluiu. Escreva sempre, tenha disciplina. Participe
das antologias de contos e jamais desanime com os “nãos” que vão surgir. É
assim com todo mundo. O que não parece bom hoje, pode beirar à perfeição
amanhã. Nessa eterna busca, eu também vou caminhando. Se eu vou chegar lá algum
dia, não sei. Mas ninguém pode me acusar por não ter tentado. Tudo o que é
feito com amor e dedicação é sempre recompensado, não tem erro.
Aproveito para agradecer
novamente sua atenção e lhe desejar muito sucesso pelo “O Castelo Montessales”
Obrigada Roxane! Gostei
muito de participar. =)
Nós é que agradecemos sua participação, Susy. E desejamos muitoooo sucesso para ti!
Merry Meet!
Roxane Norris
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